domingo, 2 de fevereiro de 2020

PSICOSE E NEUROSE - SEGUNDA PARTE: NEUROSE




“Neurose” é definida pela Wikipédia em português como “qualquer transtorno mental que, embora cause tensão, não interfere no pensamento racional ou na capacidade funcional da pessoa”. Esta definição é bem ruim porque, indubitavelmente, quadros mais graves de neurose interferem – e muito – na capacidade funcional da pessoa. Indivíduos com neurose compulsiva (atualmente chamada de “transtorno obsessivo-compulsivo”) podem passar longos períodos realizando rituais, ao invés de se ocuparem de outras atividades e neuroses fóbicas podem impedir as pessoas de se socializar ou até de sair de casa.
O termo neurose teria sido usado pela primeira vez pelo médico escocês Cullen; Em seu livro de 1769, incluía todo tipo de transtornos neurológicos, psicossomáticos, neuróticos e psicóticos. Pinel (1745-1826), médico francês muito conhecido por suas grandes ações no sentido de humanizar o tratamento dos doentes mentais, incluiu as neuroses na sua classificação de doenças. Em seu entender, as neuroses não eram apenas doenças do sistema nervoso, porém também “morais” (uma possível explicação para o uso deste termo seria a referência a perturbações mentais que afetavam tanto aspectos emotivos quanto faculdades morais). Freud, criador da psicanálise, considerou as neuroses como sendo devidas, em última instância, a desejos sexuais reprimidos. Agrupavam-se sob o conceito de neuroses uma série de transtornos como paralisias ou alterações de sentido sem causa neurológica (neurose histérica), comportamentos caracterizados por rituais repetidos que a pessoa se sente compelida a fazer (neurose compulsiva) ou medos desproporcionais ou absurdos (neurose fóbica).  Freud fala também de uma estrutura neurótica esquizoide, onde haveria resistência à intimidade e tendências à desconfiança. Apesar de algumas ideias de Freud como, por exemplo, nossas ações se originarem fora da consciência, poderem ter base científica, o grosso da teoria freudiana não pode ser cientificamente testado e não há evidências de que as neuroses tenham como causa última desejos sexuais reprimidos. Em 1968, a segunda edição do Manual de Diagnóstico e Estatística da Associação Psiquiátrica Americana considerou que o sintoma principal das neuroses era a ansiedade e, assim, elas passaram a equivaler aos transtornos ansiosos. Entretanto, isto vem mudando ao longo do tempo e, atualmente, a Associação Psiquiátrica Americana, por exemplo, considera-se que o transtorno obsessivo-compulsivo (que seria o equivalente à neurose compulsiva de Freud) não é um transtorno ansioso típico, apesar de ter um componente importante de ansiedade, pois possui mais pontos em comum com transtornos caracterizados por comportamentos compulsivos e repetitivos como, por exemplo, o transtorno de acumulação.
Em função de todos estes problemas e imprecisões, o uso do termo "neurose" tem sido evitado, na Psiquiatria moderna.

Imagem: Menina sofrendo de ansiedade. By Bablekan, CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=17572463

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