Pessoas com depressão grave perdem o prazer em fazer tudo ou
quase tudo de que gostavam, antes de depressão. Pessoas que gostavam de
encontrar amigos, não querem mais; as que gostavam de ler, não sentem mais
prazer na leitura; as que “curtiam” cinema, perdem o interesse pelos filmes: e
assim por diante. Além da perda do prazer, um desânimo, uma dificuldade para
dar início às suas atividades também é uma queixa frequente.
Panksepp, com base em suas pesquisas, aventou a hipótese de
que dois dos sete sistemas afetivos (veja na postagem anterior) seriam os mais
prováveis e importantes candidatos como causa do sofrimento, na depressão
(apesar de que VÁRIOS sistemas podem ser afetados): o sistema de PÂNICO/LUTO e
o sistema de PROCURA. O sistema de PÂNICO/LUTO (ou simplesmente sistema de
LUTO) seria muito sensível a perdas sociais (de entes queridos) o que,
sabidamente, pode ser desencadeante de quadros depressivos. Também problemas no
vínculo do filhote com a mãe podem predispor: as pesquisas eticamente lamentáveis
de separação de filhotes de macaco de suas mães e estudos de estimulação elétrica
destes sistemas em cobaias são alguns dos embasamentos desta hipótese. Por sua
vez, a diminuição da atividade neste sistema poderia, segundo experimentos,
desencadear uma diminuição da atividade do sistema de PROCURA, o que traria o
desânimo e aumentaria o sofrimento. Com base neste modelo, também estaria
explicado por que substâncias estimulantes têm efeito antidepressivo. Além disto,
possivelmente, os antidepressivos têm como um dos mecanismos de ação o aumento
da atividade do sistema de PROCURA como ocorre, por exemplo, em outro experimento
eticamente condenável: pôr ratinhos a nadar numa “piscina” e, cada vez que se
aproximam da borda, são jogados de volta na água. Após muitas tentativas, os
ratinhos desistem e, se não forem retirados, morrem afogados. O uso de antidepressivos
aumenta significativamente o número de vezes em que os ratinhos continuarão
tentando atingir a borda.
Ilustração: o resultado cruel de separar filhotes de macaco de suas mães. O filhote fica intensamente deprimido e se apega a um bicho de pelúcia. Filhotes chegavam a deixar de comer, se tivessem a opção de escolher um alimentador ou algo peludo a que se pudessem apegar. Estes experimentos foram feitos por Harry Harlow, pesquisador americano, na década de 50 e ainda hoje, há laboratórios que os fazem.
Referências:
Arling GL, Harlow HF.
Effects of social deprivation on maternal behavior of rhesus monkeys.
Comp Physiol Psychol. 1967 Dec;64(3):371-7. No abstract available.
Herman BH, Panksepp J.
Ascending endorphin inhibition of distress vocalization. Science. 1981
Mar 6;211(4486):1060-2
Panksepp J Affective
neuroscience of the emotional BrainMind: evolutionary perspectives and
implications for understanding depression.
Dialogues Clin Neurosci 2010. PMID 21319497 Free PMC
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3181986/pdf/DialoguesClinNeurosci-12-533.pdf
(acessado em 28/01/2020)
Panksepp J, Biven L
The archaeology of mind - neuroevolutionary origins of human emotions.
Norton series on interpersonal neurobiology (2012) - kindle edition (2020)
Simbi CMC, Zhang Y, Wang Z.
Early parental loss in childhood and depression in adults: A systematic
review and meta-analysis of case-controlled studies. J Affect Disord. 2020 Jan 1;260:272-280. doi:
10.1016/j.jad.2019.07.087. Epub 2019 Jul 30. Review. PMID: 31521863
Thiébot MH, Martin P, Puech AJ. Animal behavioural studies in the evaluation
of antidepressant drugs. Br J Psychiatry Suppl. 1992 Feb;(15):44-50. Review

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