quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

POR QUE A DEPRESSÃO FAZ SOFRER? (2)


Pessoas com depressão grave perdem o prazer em fazer tudo ou quase tudo de que gostavam, antes de depressão. Pessoas que gostavam de encontrar amigos, não querem mais; as que gostavam de ler, não sentem mais prazer na leitura; as que “curtiam” cinema, perdem o interesse pelos filmes: e assim por diante. Além da perda do prazer, um desânimo, uma dificuldade para dar início às suas atividades também é uma queixa frequente.
Panksepp, com base em suas pesquisas, aventou a hipótese de que dois dos sete sistemas afetivos (veja na postagem anterior) seriam os mais prováveis e importantes candidatos como causa do sofrimento, na depressão (apesar de que VÁRIOS sistemas podem ser afetados): o sistema de PÂNICO/LUTO e o sistema de PROCURA. O sistema de PÂNICO/LUTO (ou simplesmente sistema de LUTO) seria muito sensível a perdas sociais (de entes queridos) o que, sabidamente, pode ser desencadeante de quadros depressivos. Também problemas no vínculo do filhote com a mãe podem predispor: as pesquisas eticamente lamentáveis de separação de filhotes de macaco de suas mães e estudos de estimulação elétrica destes sistemas em cobaias são alguns dos embasamentos desta hipótese. Por sua vez, a diminuição da atividade neste sistema poderia, segundo experimentos, desencadear uma diminuição da atividade do sistema de PROCURA, o que traria o desânimo e aumentaria o sofrimento. Com base neste modelo, também estaria explicado por que substâncias estimulantes têm efeito antidepressivo. Além disto, possivelmente, os antidepressivos têm como um dos mecanismos de ação o aumento da atividade do sistema de PROCURA como ocorre, por exemplo, em outro experimento eticamente condenável: pôr ratinhos a nadar numa “piscina” e, cada vez que se aproximam da borda, são jogados de volta na água. Após muitas tentativas, os ratinhos desistem e, se não forem retirados, morrem afogados. O uso de antidepressivos aumenta significativamente o número de vezes em que os ratinhos continuarão tentando atingir a borda.




Ilustração: o resultado cruel de separar filhotes de macaco de suas mães. O filhote fica intensamente deprimido e se apega a um bicho de pelúcia. Filhotes chegavam a deixar de comer, se tivessem a opção de escolher um alimentador ou algo peludo a que se pudessem apegar. Estes experimentos foram feitos por Harry Harlow, pesquisador americano, na década de 50 e ainda hoje, há laboratórios que os fazem.


Referências:
Arling GL, Harlow HF.      Effects of social deprivation on maternal behavior of rhesus monkeys. Comp Physiol Psychol. 1967 Dec;64(3):371-7. No abstract available.

Herman BH, Panksepp J.    Ascending endorphin inhibition of distress vocalization. Science. 1981 Mar 6;211(4486):1060-2

Panksepp J   Affective neuroscience of the emotional BrainMind: evolutionary perspectives and implications for understanding depression.    Dialogues Clin Neurosci 2010. PMID 21319497 Free PMC   https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3181986/pdf/DialoguesClinNeurosci-12-533.pdf (acessado em 28/01/2020)

Panksepp J, Biven L    The archaeology of mind - neuroevolutionary origins of human emotions. Norton series on interpersonal neurobiology (2012)  - kindle edition (2020)

Simbi CMC, Zhang Y, Wang Z.   Early parental loss in childhood and depression in adults: A systematic review and meta-analysis of case-controlled studies.  J Affect Disord. 2020 Jan 1;260:272-280. doi: 10.1016/j.jad.2019.07.087. Epub 2019 Jul 30. Review.  PMID: 31521863

Thiébot MH, Martin P, Puech AJ.   Animal behavioural studies in the evaluation of antidepressant drugs. Br J Psychiatry Suppl. 1992 Feb;(15):44-50. Review

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