quinta-feira, 25 de outubro de 2018

QUAL A DROGA MAIS ASSOCIADA AO COMPORTAMENTO SUICIDA?





Fala-se muito, na imprensa, sobre a violência relacionada ao uso e tráfico de drogas ilícitas, mas se fala menos da droga que mais frequentemente se associa a comportamentos violentos: até 30% dos suicídios estão associados ao seu uso (clique aqui para ler mais) 

Ilustração: By Édouard Manet - The Yorck Project (2002) 10.000 Meisterwerke der Malerei (DVD-ROM), distributed by DIRECTMEDIA Publishing GmbH. ISBN: 3936122202.Data source: "Le Suicidé: Édouard Manet’s Modern Crucifixion", Public Domain, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=154447

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

O QUE É EMPATIA?


O QUE É EMPATIA?





O termo “empatia” se origina do grego antigo, do radical “path”, indicando “sofrer, sentir"(1). Historicamente, sua origem é controversa, sendo atribuída a uma tradução do termo alemão “Einfühlung”, derivado do verbo “einfühlen”, traduzível aproximadamente como “sentir para dentro” (de algo) (2).
Modernamente, o termo também tem várias acepções, mas basicamente engloba um aspecto cognitivo, relacionado à capacidade de compreender o significado do que se passa psicologicamente com a outra pessoa e um afetivo, relacionado à capacidade de perceber as emoções do outro (3), apesar de não as sentir diretamente.
Estudos científicos sugerem que, no cérebro, as áreas relacionadas à empatia estão também relacionadas aos cuidados maternos e à percepção do sofrimento do filhote (4). As pesquisas também mostram que a capacidade de empatia ocorre não só em seres humanos, mas também em outros mamíferos como macacos e roedores e mesmo aves (4,5).
A empatia constitui uma vantagem, na evolução das espécies, possivelmente porque se os indivíduos de uma espécie apresentarem empatia com grande frequência, se ajudarão uns aos outros e, assim, aumentam a probabilidade de sobrevida e de reprodução (6)



Referências

1. Wikipedia (2018)  Empathie https://de.wikipedia.org/wiki/Empathie#cite_note-7 , consultado em 14/10/2018

2. Wikipedia  (2018)  Hermann Lotze  https://de.wikipedia.org/wiki/Hermann_Lotze , consultado em 14/10/2018
4. Panksepp J; Biven L    The archaeology of mind  - neuroevolutionary origins of human emotion    (2013)  WW Norton Company, London, RU   (Kindle Ed., 2013)
5. Panksepp J, Panksepp JB    Toward a cross-species understanding of empathy    Trends Neurosci. 2013; v.36  p. 489–96.
6. Singer P    The expanding circle   - ethics, Evolution and moral progress    Princeton University Press (1981), Oxfordshire, RU. (Kindle ed., 2011)


Ilustração: By Louis Le Nain - The Yorck Project (2002) 10.000 Meisterwerke der Malerei (DVD-ROM), distributed by DIRECTMEDIA Publishing GmbH. ISBN: 3936122202., Public Domain, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=153723 

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

VOCÊ SE SENTE HÁ MUITO TEMPO NO FUNDO DO POÇO?




DEPRESSÃO

Trinta por cento das pessoas vão ter depressão pelo menos uma vez na vida e dez por cento terão quadros graves.


Depressão não é tristeza. Tristes, todos ficamos algumas (ou muitas) vezes, na vida. É normal. Faz parte da existência humana.

Depressão não é "fossa" por ter perdido o namorado ou a namorada.

Depressão não é preguiça, nem falta do que fazer: há pessoas intensamente deprimidas e que, com muito custo, continuam trabalhando, estudando, fazendo tudo - até mesmo contando piadas! É a necessidade de sobrevivência, a face que mostram para a sociedade. Mas, por dentro, sentem-se terrivelmente mal e têm pensamentos profundamente tristes e pessimistas.

Assim, falar sobre depressão é sempre importante, para estimular as pessoas a procurarem tratamento e, sobretudo, tirar o preconceito que alguns ainda tem de que depressão é preguiça ou falta de força de vontade ou coisa de pessoas que não tem o que fazer.

Na entrevista abaixo, dou alguns esclarecimentos sobre depressão:




Ilustração: By Leroy Allen Skalstad - Own work, Public Domain, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=7776402

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

terça-feira, 21 de agosto de 2018

TRATAMENTO DA DEPENDÊNCIA DE MACONHA - ÚLTIMA PARTE


TRATAMENTO DO TRANSTORNO DE USO DE CANNABIS - ÚLTIMA PARTE


Frequentemente, as pessoas que procuram tratamento para o uso de maconha não tem certeza se é isso mesmo que querem, se devem se tratar ou se, na verdade, seu uso não está causando problemas. Outras vezes, usuários decidem parar de usar mas, em algum momento, passam a ter dúvidas de se é este mesmo o caminho. Este tipo de oscilações é normal, principalmente naqueles casos onde não houve grandes prejuízos pelo uso.

Ao contrário da família, que até pode pressionar para que a pessoa se trate, o terapeuta não tem este direito e nem isto é aconselhável. Nestes casos, pode-se lançar mão das técnicas motivacionais. Veja como isto funciona em meu vídeo sobre TRATAMENTO DA DEPENDÊNCIA DE MACONHA - ÚLTIMA PARTE.

TRATAMENTO DA DEPENDÊNCIA DE MACONHA - ÚLTIMA PARTE



Ilustração:

Folha de maconha: https://pixabay.com/pt/can%C3%A1bis-c%C3%A2nhamo-folha-maconha-1254745/ (atribuição não requerida), acessado em 12/08/2018

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

TRATAMENTO DA DEPENDÊNCIA DE MACONHA - TERCEIRA PARTE





TRATAMENTO DA DO TRANSTORNO DE USO DE CANNABIS - TERCEIRA PARTE


Muitas pessoas vêm ao psiquiatra com a demanda de remédios que ajudem a "curar" a dependência de maconha. Há algumas pesquisas promissoras.

Muitas pessoas vêm ao psiquiatra com a demanda de ele internar um parente que está tendo problemas com Cannabis (maconha). Em quais casos se deve internar?


ASSISTA AO TERCEIRO SEGMENTO (MEIO DEMORADO, MAS VALE A PENA) DA SÉRIE SOBRE  TRATAMENTO DA DEPENDÊNCIA DE MACONHA - TERCEIRA PARTE






Ilustração: No drugs   CCO Creative Commons - atribuição não requerida  https://pixabay.com/pt/sem-drogas-inscreva-se-saud%C3%A1vel-156771/ , acessado em 09/08/2018

terça-feira, 7 de agosto de 2018

TRATAMENTO DA DEPENDÊNCIA DE MACONHA - SEGUNDA PARTE




TRATAMENTO DO TRANSTORNO DE USO DE CANNABIS - SEGUNDA PARTE

O transtorno de uso de Cannabis ("dependência de maconha") não é uma doença propriamente dita, porém um conjunto de comportamentos que se caracteriza pelo uso continuado da Cannabis apesar dos problemas que ela possa estar trazendo.

Assim, um aspecto importante da abordagem é detectar quais as circunstâncias envolvidas no comportamento: quais os locais, horários, pensamentos, emoções e sentimentos que podem servir como gatilhos, assim como as consequências comportamentais do uso.

VEJA MAIS NO VÍDEO:

TRATAMENTO DO TRANSTORNO DE USO DE CANNABIS - SEGUNDA PARTE




Ilustração:

MStock/ Adrian Hillman (photo)   Male resting head    in Marijuana (mental effects)  National Institute on Drug Abuse,  Advancing Addiction Science, https://www.drugabuse.gov/publications/drugfacts/marijuana , acessado em 07/08/2018


domingo, 5 de agosto de 2018

TRATAMENTO DA DEPENDÊNCIA DE MACONHA - PRIMEIRA PARTE


TRATAMENTO DO TRANSTORNO DE USO DE CANNABIS - PRIMEIRA PARTE

Nos últimos anos, várias medicações têm sido estudadas como potencialmente úteis para o tratamento da dependência de maconha, tais como a buspirona (uma medicação atualmente usada para ansiedade), preparações baseadas no THC (tetra-hidro-canabinol), que é a própria substância que causa dependência, na Cannabis, a N-acetil-cisteína (normalmente usada para "soltar" o catarro, em quadros de rinite) e várias outras. Por enquanto, porém, os estudos não foram suficientemente conclusivos para que alguma medicação fosse aprovada.

Assim, as abordagens são psicoterápicas, sendo que a mais estudada destas abordagens é a terapia cognitivo-comportamental.

Veja mais em:



Crédito da ilustração: Vapor Vanity - Broken joint https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=69148823

sábado, 4 de agosto de 2018

MACONHA VICIA?





O TRANSTORNO DE USO DE CANNABIS


Muitas pessoas usam maconha esporadicamente e não têm nenhum problema comportamental grave. Entretanto, o que se observa é que uma parte dos usuários acaba desenvolvendo o que se chama de "transtorno de uso de maconha", que é um quadro caracterizado por um padrão de uso problemático da Cannabis.


Segundo a Associação Psiquiátrica Americana (American Psychiatric Association, 2013), para o diagnóstico de um transtorno de uso de maconha, há necessidade da presença de pelo menos dois dos sintomas abaixo, ao longo de pelo menos um ano (os exemplos são ilustrativos e podem variar de caso para caso):

1. A maconha é consumida em quantidades maiores ou por um período mais prolongado do que se pretendia (por exemplo, a pessoa decide que vai fumar um baseado mas acaba fumando vários ou decide que vai ficar fumando só até um determinado horário, mas acaba passando desse horário).

2. Há um desejo persistente OU várias tentativas de parar de usar ou de controlar o uso. (Isto porque algumas pessoas claramente percebem que querem parar ou controlar, mas não conseguem e outras não têm esta percepção; porém, se uma pessoa já se propôs a controlar o uso ou parar várias vezes e sempre volta a usar, é sinal quase certo de que não está conseguindo, só que ainda não percebeu.)

3. Muito tempo é gasto para conseguir a maconha, usando a maconha ou se recuperando de seus efeitos. (Por exemplo, a pessoa percorre longos trajetos ou perde muito tempo para conseguir comprar a maconha; ou fica usando várias horas seguidas; ou o barato da maconha demora muito tempo para passar e a pessoa recuperar seu normal e poder realizar suas atividades.)

4. Ocorrência de "fissura" ou um desejo e necessidade muito fortes de usar a maconha.

5. Uso repetido de maconha resultando em insucesso no cumprimento de obrigações no trabalho, na escola ou em casa. (Por exemplo, um adolescente que deixa de estudar para a prova porque fica fumando maconha ou porque fica sob efeito de ter fumado.)

6. Continuação do uso de maconha apesar de problemas sociais ou interpessoais persistentes ou recorrentes causados ou piorados pelos efeitos da maconha. (Por exemplo, a pessoa fica frequentemente sob o efeito do "barato" da maconha e tem comportamentos que levam os outros a se afastarem.)

7. Importantes atividades sociais, ocupacionais ou recreativas são interrompidas ou diminuídas por causa do uso da maconha. (Por exemplo, a pessoa se isola socialmente ou da família porque prefere ficar curtindo o "barato" da maconha.)

8. Uso recorrente de maconha em situações que envolvem perigo físico. (Por exemplo, dirigir sob o efeito de maconha.)

9. Continuação do uso da maconha apesar de a pessoa apresentar problema físico ou psicológico sobre o qual ela sabe que é causado ou piorado pela maconha. (Por exemplo, a pessoa sabe que tem uma bronquite piorada por fumar maconha e, mesmo assim, continua fumando.)

10. Tolerância: a pessoa tem necessidade de usar quantidades cada vez maiores de maconha para conseguir o mesmo "barato" ou, ao contrário, a pessoa mantém a mesma quantidade de maconha que sempre usou, mas os efeitos diminuem, ao longo do tempo.

11. Abstinência característica da maconha (irritabilidade, raiva ou agressividade; nervosismo ou ansiedade; dificuldades de dormir; diminuição do apetite ou perda de peso; inquietação; humor deprimido; desconforto por caus de dores abdominais, tremores, suor, febre, calafrios ou dor de cabeça) ou necessidade de usar maconha para evitar os sintomas de abstinência.

Nos Estados Unidos, cerca de 3,4% dos jovens entre 12 e 17 anos apresentaram este diagnóstico em algum período do ano anterior à pesquisa, assim como 1,5% das pessoas acima de 18 anos (1).

No Brasil, segundo levantamento em 2012, 6,8% dos adultos pesquisados usaram maconha na vida, o que correspondia a mais de 7,8 milhões de pessoas; destes, 43% haviam usado no ano anterior à pesquisa e, destes, por sua vez, 37% eram dependentes. (2)

Neste mesmo levantamento,  4,3% dos adolescentes pesquisados já havia utilizado, dos quais 79% haviam usado ao longo do ano anterior à pesquisa. Destes, dez por cento eram dependentes. (2)








Referência:


1. American Psychiatric Association. (2013). Diagnostic and statistical manual of mental disorders (5th ed.). Washington, DC

2. Laranjeira R (supervisor)   Madruga CS, Pinsky I, Caetano R, Mitsuhiro SS, Castello G     II Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (LENAD) – 2012.   Instituto Nacional para Políticas Públicas de Álcool e  outras Drogas ((9INPAD), (UNIFESP) . São Paulo, 2014

Ilustração

Grimmet C   Smoking   Wikimedia Commons   https://commons.wikimedia.org/wiki/Category:Cannabis_smoking#/media/File:Smoking_(6307374507).jpg , acessado em 04/08/2018



quinta-feira, 2 de agosto de 2018

MACONHA FAZ MAL?

MACONHA - DEMÔNIO OU ANJO?  




Se tem algum assunto controvertido, este assunto se chama "maconha". Dificilmente há alguém que não tenha alguma opinião sobre a maconha.



Mas, o que realmente a ciência diz sobre a maconha?


ASSISTA AO VÍDEO E FIQUE À VONTADE PARA COMENTAR














ILUSTRAÇÕES

Macho Carioca  Devil goat  
https://commons.wikimedia.org/wiki/Category:The_Devil#/media/File:Devil2.jpg

Wolfgang Sauber  Freistadt (Áustria Superior)  Igreja de Nossa Senhora - altar alto (1640), por Hans Heinz: Cabeça de Anjo   https://commons.wikimedia.org/wiki/Category:Angel_heads_in_Austria#/media/File:Freistadt_Liebfrauenkirche_-_Hochaltar_3b_Engelskopf.jpg

quarta-feira, 1 de agosto de 2018

SOFRIMENTO E LOUCURA


VOCÊ SABE O QUE É DEPRESSÃO PSICÓTICA?

Leia meu artigo e conheça este quadro que ainda alguns profissionais confundem com esquizofrenia.





Ilustração: By Judithcarlin - Own work, CC BY-SA 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=48603513  No escape

domingo, 22 de julho de 2018

É VERDADE QUE EXISTE UM KIT GAY? (2)


O QUFAZ UMA PESSOA SER HOMOSSEXUAL

2a. parte



Não há descobertas definitivas sobre quais são as causas exatas da orientação sexual mas, como vários outros comportamentos complexos do ser humano, a orientação homossexual possivelmente é determinada por fatores de naturezas várias (1):

    • EFEITOS HORMONAIS - vários estudos sugerem que há sutis diferenças na exposição aos hormônios sexuais, em seus primeiros tempos de vida e quando, por exemplo, em cobaias, embriões femininos eram expostos a quantidades elevadas de hormônios masculinos, passavam a apresentar comportamentos masculinos, se fossem novamente expostas a testosterona (hormônio masculino), na idade adulta.
    • EFEITOS GENÉTICOS NÃO MEDIADOS POR HORMÔNIOS - estudos em animais mostraram que pelo menos algumas das diferenças sexuais já aparecem antes do desenvolvimento das gônadas (órgãos sexuais produtores de hormônios) e um caso de um pássaro, examinado em laboratório, que possuía metade do cérebro feminino e o outro masculino. Como a exposição dos dois lados aos hormônios havia sido a mesma, concluiu-se  que havia outros fatores na diferenciação sexual, que não dependiam dos hormônios e ocorriam apesar deles.
    • EFEITOS EPIGENÉTICOS - efeitos epigenéticos são aqueles que não dependem de alterações na estrutura da molécula de DNA (o material que constitui os cromossomos, responsáveis pelas características físicas dos organismos ), porém envolvem processos como a inibição ou a ativação de partes dos genes. Alguns efeitos dos hormônios sexuais, por exemplo, são mediados por alterações que eles causam no DNA e, utilizando-se de substâncias (enzimas) que mimetizam os efeitos da testosterona (hormônio masculino) no DNA, foi possível induzir a expressão de genes que levaram a comportamentos masculinizados, em roedores.


Figura 1. Efeitos epigenéticos. Em aumentos progressivos, as pequenas alterações no DNA que levam a modificações no funcionamento dos genes (ilustração esquemática). 


Supõe-se que os mecanismos envolvidos em humanos sejam semelhantes: hormonais, genéticos e epigenéticos. Entretanto, a manipulação experimental é praticamente impossível, em humanos, de modo que as conclusões são geralmente baseadas indiretamente, em correlações:


  • EFEITOS HORMONAIS - a proporção entre o comprimento do dedo indicador e o anular, menor em lésbicas que em mulheres heterossexuais, o comprimento relativo dos ossos longos nos membros inferiores e superiores, menor em gays e em mulheres heterossexuais e as dimensões de algumas áreas do cérebro como, por exemplo, uma área denominada de INAH3, situada no hipotálamo, três vezes maior, em homens heterossexuais.



Figura 2. Hipotálamo. O hipotálamo aparece em azul claro, visto pela parte interna de um crânio cortado ao meio.




  • EFEITOS GENÉTICOS NÃO MEDIADOS POR HORMÔNIOS - vários estudos epidemiológicos mostram que a presença de homens homossexuais numa família se correlaciona com um aumento da probabilidade de se encontrarem outros homens com a mesma orientação sexual e estudos com gêmeos sugerem que isto pode ocorrer independente de influências do meio onde estas pessoas crescem e, em sociedades ocidentais, cinquenta por cento da tendência pode ter causa genética.
  • EFEITOS EPIGENÉTICOS - o fato, justamente, de haver uma concordância de cinquenta a sessenta por cento em gêmeos idênticos chama a atenção para a interferência de outros fatores. Há várias hipóteses baseadas em vários estudos e, só como exemplo, comenta-se a possibilidade de que fatores epigenéticos possam diminuir ou aumentar a ação da testosterona, na vida intra-uterina.
Cada fator biológico (hormonal, genético e epigenético) explica a homossexualidade apenas numa fração de indivíduos e é possível que haja, inclusive, vários tipos de causalidade para a orientação homossexual ou vários graus de interação entre os três fatores.

ASPECTOS COMPORTAMENTAIS

Há algumas experiências interessantes com animais que, inclusive, envolvem a interação de questões comportamentais com aspectos biológicos:

Ratos machos podem desenvolver uma preferência por indivíduos do mesmo sexo, fazendo-os conviver com outros machos, sob o efeito do quinpirol, uma substância que estimula no cérebro os receptores de dopamina. (A dopamina é uma substância química naturalmente presente no cérebro que, quando se liga a células em certas áreas chamadas de sistemas de gratificação, favorece a procura de alimentos, água e sexo - Figura 3.) Se, entretanto, estes machos forem previamente expostos a experiências heterossexuais, sua tendência será de manter preferência pelo sexo oposto, mesmo após convivência com outros machos e mesmo sob efeito do quinpirol (2).




Figura 2. Sistemas de gratificação cerebrais (lilás) e os trajetos da dopamina (linhas pretas e roxas).


Em experiências semelhantes com fêmeas (3), o quinpirol não induziu preferência em fêmeas cujos ovários haviam sido retirados e que haviam recebido hormônios femininos (estradiol e progesterona). Mas, quando só se administrou estradiol (hormônio que aumenta o comportamento sexual), fêmas condicionadas com quinpirol apresentavam mais comportamentos sexuais dirigidos a fêmeas, quando comparadas com aquelas que não haviam recebido quinpirol.

As pesquisas em humanos são especialmente difíceis, pelos seguintes aspectos (4):
  • Questões éticas relacionadas à possibilidade de interferir no desenvolvimento do indivíduo.
  • Questões técnicas relacionadas ao período prolongado do desenvolvimento, dificultando a observação.
  • própria separação rígida em "homossexuais" e "heterossexuais" é discutível.
  • A maioria das pesquisas foi feita em homens e, além disto, é possível que as pessoas que concordem em participar destes estudos não sejam representativos da totalidade da população de homossexuais.


Alguns achados interessantes:

  • Não há evidências que confirmem teorias antigas de que a homossexualidade masculina estaria relacionada à presença de "mães dominantes" (4)
  • Existe uma incidência discretamente maior de filhos homossexuais de pais homossexuais, porém pode ser devido a influências genéticas e não comportamentais E não foi observada correlação entre o tempo de convivência com os pais e a posterior orientação sexual(4)
  • Um dos achados mais constantes é a presença de não-conformidade sexual (comportamentos e fantasias não esperados para o gênero) , em crianças pré-homossexuais (4,5).

CONCLUSÕES

A questão da origem do comportamento homossexual ainda não está respondida, mas existem evidências sobre a interação de fatores genéticos com fatores ambientais. 

Não há nenhum indício que corrobore a existência de uma "opção sexual", no sentido de as pessoas decidirem livremente se terão atração sexual por um ou outro gênero.

Por outro lado, a presença de homossexualidade em vários animais (4) mostra claramente que não se trata de nenhum traço "anti-natural", porém de uma variação do comportamento sexual.

Da mesma forma, não há base científica para se considerar a homossexualidade uma doença e não se justifica, portanto, falar-se em "tratamento".







Referências bibliográficas


1. Balthazart J    Sex differences in partner preferences in humans and animals.  Philos Trans R Soc Lond B Biol Sci    2016 Feb 19;371(1688):20150118. doi: 10.1098/rstb.2015.0118. Epub 2016 Feb 1.


2. Ramírez-Rodríguez R, Tecamachaltzi-Silvaran MB,, Díaz-Estrada VX, Chena-Becerra F,, Herrera-Covarrubias D,, Paredes-Ramos P, Manzo J,, Garcia LI, Coria-Avila GA.    Heterosexual experience prevents the development of conditioned same-sex partner preference in male rats.  Behav Processes 2017 Mar;136:43-49. doi: 10.1016/j.beproc.2017.01.010. Epub 2017 Jan 21

3. Tecamachaltzi-Silvaran MB, Barradas-Moctezuma M, Herrera-Covarrubias D, Carrillo P, Corona-Morales AA, Perez CA, García LI, Manzo J, Coria-Avila GA.   Olfactory conditioned same-sex partner preference in female rats: role of ovarian hormones.   Horm Behav. 2017 Nov;96:13-20. doi: 10.1016/j.yhbeh.2017.08.006. Epub 2017 Sep 12.


4. Jenkins WJ     Can anyone tell me why I'm gay? What research suggests regarding the origins of sexual orientation. 
5. Gordon AR, Meyer IH.   Gender nonconformity as a target of prejudice, discrimination, and violence against LGB individuals.   J LGBT Health Res. 2007;3(3):55-71.





Ilustrações:


Início da postagem: Benson Kua    Rainbow flag breeze  Wikimedia commons   https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/fb/Rainbow_flag_breeze.jpg , acessado em 22/07/2018



Figura 2. Wikimedia Commons   Esquema explicativo dos mecanismos epigenéticos   https://commons.wikimedia.org/wiki/Category:Epigenetics#/media/File:Mecanismes_epigenetiques.jpg , acessado em 22/07/2018


Figura 3. Vias dopaminérgicas - NIDA, Quasihuman - Derivative work of File:Dopamine Pathways.png            https://pt.wikipedia.org/wiki/Dopamina#/media/File:Dopamine_pathways.svg

sábado, 21 de julho de 2018

É VERDADE QUE EXISTE UM KIT GAY? (1)

O QUE FAZ UMA PESSOA SER HOMOSSEXUAL?

 1a. parte


A palavra "homossexual" foi usada pela primeira vez pelo jornalista e escritor húngaro Karl-Maria Kertbeny (Kertbeny Károly Mária, em húngaro), em 1869, numa carta ao ministro da Justiça prussiano Dr Adoplh Leonhardt, contrapondo-se a uma lei que criminalizava a "sodomia" (1). 




Ilustração 1: Primeira menção à palavra "homossexual".



Kertbeny considerava a homossexualidade apenas uma variação da sexualidade do ser humano. Entretanto, depois dele, vários autores 



Ilustração 2. Karl-Maria Kertbeny.


passaram a tratar a homossexualidade como uma doença e se propuseram a tratá-la. Freud considerou a homossexualidade uma suspensão da evolução sexual e não considerava a possibilidade de tratá-la (2). Apesar disto, psicanalistas posteriores passaram a conceitualizar a homossexualidade como uma evitação fóbica do sexo oposto, condicionada por inadequações dos pais (2) e também se propuseram a tratá-la.

Finalmente, em 1973, a Associação Psiquiátrica Americana retirou a homossexualidade do rol dos transtornos psiquiátricos, porém ainda considerava patológicos casos em que a pessoa tivesse atração por outras do mesmo sexo, mas que sofresse por causa disto e quisesse mudar, denominando-a de "homossexualidade ego-distônica". (2) (Entretanto, tudo sugere que esta "distonia" fosse devida ao sofrimento em função do preconceito social.)

Mas, o que leva uma pessoa a ser homossexual?

Primeiramente, é importante lembrar que não existe A homossexualidade: comportamentos homossexuais podem ocorrer, por exemplo, entre pessoas geralmente heterossexuais, quando privadas de sexo e convivendo apenas com pessoas do mesmo sexo, como em conventos e prisões.

Entretanto, em relação às pessoas que, em condições sem restrição ou coerção preferem predominantemente ter relações afetivas e sexuais com outras do mesmo sexo, têm sido feitas pesquisas em grande quantidade. Os resultados são interessantes, porém ainda não há conclusões definitivas.

No blog de amanhã, vou citar as principais descobertas.




Referências

1. Wikipedia   Karl-Maria Kertbeny   https://en.wikipedia.org/wiki/Karl-Maria_Kertbeny , acessado em 21/07/2018

2. Drescher J Out of DSM: depathologizing homosexuality Behav Sci (Basel). 2015 Dec 4;5(4):565-75. doi: 10.3390/bs5040565. PMID: 26690228



Ilustrações

1. Wikimedia Commons    Erste Nennung der Worte „Monosexual“, „Homosexual“ und „Heterosexual“ in einem Brief vom 6. Mai 1868 aus Hannover   https://de.wikipedia.org/wiki/Karl_Maria_Kertbeny#/media/File:Homosexual.jpg, acessado em 21/07/2018

2. Wikipedia    Portrait photo of Karl Maria Kertbeny, ca. 1865.   https://en.wikipedia.org/wiki/Karl-Maria_Kertbeny#/media/File:Karl_Maria_Kertbeny_(ca_1865).jpg


quinta-feira, 19 de julho de 2018

UMA PESQUISA (FALSA) SOBRE CONTROLE DE PESO

COMER EM PRATOS MENORES AJUDA NO CONTROLE DE PESO?


Frequentemente se ouve falar, quando alguém quer fazer dieta para controlar o peso, que deve servir-se em pratos menores. Uma das bases desta proposta é o que se chama de "ilusão de Delboeuf" (ilustração), descrito pelo psicólogo experimental belga Joseph Delboeuf (1), em 1893. Devido a esta ilusão, supunha-se que quando uma pessoa se servisse num prato menor, pegaria menos comida do que se usasse um prato maior, porque aquilo que no prato maior parecesse pouco, no menor pareceria suficiente (2).

Porém, dois pesquisadores da Universidade Ben-Gurion, em Israel, compararam grupos de pessoas que haviam sido orientadas a se abster de alimentos por três horas antes do teste com pessoas que instruídas a se alimentar no decorrer da hora antes do experimento.

O resultado foi que, nas pessoas alimentadas, a ilusão ocorria mas, naquelas que estavam privadas de alimentos por três horas, não. Os pesquisadores concluíram que possivelmente estar com fome possibilita uma análise melhor da quantidade de alimento disponível,o que neutralizaria a ilusão (3).

Portanto, com base neste estudo, se você está tentando controlar sua ingestão de alimentos, pratos menores podem não funcionar, se estiver com muita fome. Talvez valha mais a pena determinar com uma nutricionista o quanto pode comer e, se seguir esta orientação, não se preocupar com o tamanho do prato.








Ilustração: Ilusão de Delbouef: ambos os círculos pretos são do mesmo tamanho, mas o da direita parece menor, por estar inserido dentro de um círculo branco menor do que o da esquerda.




REFERÊNCIAS

(1) Wikipedia  Joseph Delboeuf    https://en.wikipedia.org/wiki/Joseph_Delboeuf, acessado em 19/07/2018

(2) Van Ittersum K; Wansink B      Plate Size and Color Suggestibility: The Delboeuf Illusion’s Bias on Serving and Eating Behavior    https://www.jstor.org/stable/pdf/10.1086/662615.pdf?refreqid=excelsior%3A1d1ad7530a29290fb8302d647cb6245c   Journal of Consumer Research   v. 39, p. 215-28

(3) Zitron-Emanuel N, Ganel T  Food deprivation reduces the susceptibility to size-contrast illusions. Appetite. 2018 Jun 6;128:138-144. doi: 10.1016/j.appet.2018.06.006. [Epub ahead of print]
.

Ilustração:

Wikimedia Commons Delboeuf illusion   Waschiucho - Own Work    By Washiucho - Own work, Public Domain, https://commons.wikimedia.org/wiki/Category:Delboeuf_illusion#/media/File:Delboeuf_illusion.svg, acessado em 19/07/2018