O QUE FAZ UMA PESSOA SER HOMOSSEXUAL?
2a. parte
Não há descobertas definitivas sobre quais são as causas exatas da orientação sexual mas, como vários outros comportamentos complexos do ser humano, a orientação homossexual possivelmente é determinada por fatores de naturezas várias (1):
- EFEITOS HORMONAIS - vários estudos sugerem que há sutis diferenças na exposição aos hormônios sexuais, em seus primeiros tempos de vida e quando, por exemplo, em cobaias, embriões femininos eram expostos a quantidades elevadas de hormônios masculinos, passavam a apresentar comportamentos masculinos, se fossem novamente expostas a testosterona (hormônio masculino), na idade adulta.
- EFEITOS GENÉTICOS NÃO MEDIADOS POR HORMÔNIOS - estudos em animais mostraram que pelo menos algumas das diferenças sexuais já aparecem antes do desenvolvimento das gônadas (órgãos sexuais produtores de hormônios) e um caso de um pássaro, examinado em laboratório, que possuía metade do cérebro feminino e o outro masculino. Como a exposição dos dois lados aos hormônios havia sido a mesma, concluiu-se que havia outros fatores na diferenciação sexual, que não dependiam dos hormônios e ocorriam apesar deles.
- EFEITOS EPIGENÉTICOS - efeitos epigenéticos são aqueles que não dependem de alterações na estrutura da molécula de DNA (o material que constitui os cromossomos, responsáveis pelas características físicas dos organismos ), porém envolvem processos como a inibição ou a ativação de partes dos genes. Alguns efeitos dos hormônios sexuais, por exemplo, são mediados por alterações que eles causam no DNA e, utilizando-se de substâncias (enzimas) que mimetizam os efeitos da testosterona (hormônio masculino) no DNA, foi possível induzir a expressão de genes que levaram a comportamentos masculinizados, em roedores.
Figura 1. Efeitos epigenéticos. Em aumentos progressivos, as pequenas alterações no DNA que levam a modificações no funcionamento dos genes (ilustração esquemática).
Supõe-se que os mecanismos envolvidos em humanos sejam semelhantes: hormonais, genéticos e epigenéticos. Entretanto, a manipulação experimental é praticamente impossível, em humanos, de modo que as conclusões são geralmente baseadas indiretamente, em correlações:
- EFEITOS HORMONAIS - a proporção entre o comprimento do dedo indicador e o anular, menor em lésbicas que em mulheres heterossexuais, o comprimento relativo dos ossos longos nos membros inferiores e superiores, menor em gays e em mulheres heterossexuais e as dimensões de algumas áreas do cérebro como, por exemplo, uma área denominada de INAH3, situada no hipotálamo, três vezes maior, em homens heterossexuais.

Figura 2. Hipotálamo. O hipotálamo aparece em azul claro, visto pela parte interna de um crânio cortado ao meio.
- EFEITOS GENÉTICOS NÃO MEDIADOS POR HORMÔNIOS - vários estudos epidemiológicos mostram que a presença de homens homossexuais numa família se correlaciona com um aumento da probabilidade de se encontrarem outros homens com a mesma orientação sexual e estudos com gêmeos sugerem que isto pode ocorrer independente de influências do meio onde estas pessoas crescem e, em sociedades ocidentais, cinquenta por cento da tendência pode ter causa genética.
- EFEITOS EPIGENÉTICOS - o fato, justamente, de haver uma concordância de cinquenta a sessenta por cento em gêmeos idênticos chama a atenção para a interferência de outros fatores. Há várias hipóteses baseadas em vários estudos e, só como exemplo, comenta-se a possibilidade de que fatores epigenéticos possam diminuir ou aumentar a ação da testosterona, na vida intra-uterina.
Cada fator biológico (hormonal, genético e epigenético) explica a homossexualidade apenas numa fração de indivíduos e é possível que haja, inclusive, vários tipos de causalidade para a orientação homossexual ou vários graus de interação entre os três fatores.
ASPECTOS COMPORTAMENTAIS
Há algumas experiências interessantes com animais que, inclusive, envolvem a interação de questões comportamentais com aspectos biológicos:
Ratos machos podem desenvolver uma preferência por indivíduos do mesmo sexo, fazendo-os conviver com outros machos, sob o efeito do quinpirol, uma substância que estimula no cérebro os receptores de dopamina. (A dopamina é uma substância química naturalmente presente no cérebro que, quando se liga a células em certas áreas chamadas de sistemas de gratificação, favorece a procura de alimentos, água e sexo - Figura 3.) Se, entretanto, estes machos forem previamente expostos a experiências heterossexuais, sua tendência será de manter preferência pelo sexo oposto, mesmo após convivência com outros machos e mesmo sob efeito do quinpirol (2).
Figura 2. Sistemas de gratificação cerebrais (lilás) e os trajetos da dopamina (linhas pretas e roxas).
Em experiências semelhantes com fêmeas (3), o quinpirol não induziu preferência em fêmeas cujos ovários haviam sido retirados e que haviam recebido hormônios femininos (estradiol e progesterona). Mas, quando só se administrou estradiol (hormônio que aumenta o comportamento sexual), fêmas condicionadas com quinpirol apresentavam mais comportamentos sexuais dirigidos a fêmeas, quando comparadas com aquelas que não haviam recebido quinpirol.
As pesquisas em humanos são especialmente difíceis, pelos seguintes aspectos (4):
Alguns achados interessantes:
CONCLUSÕES
ASPECTOS COMPORTAMENTAIS
Há algumas experiências interessantes com animais que, inclusive, envolvem a interação de questões comportamentais com aspectos biológicos:
Ratos machos podem desenvolver uma preferência por indivíduos do mesmo sexo, fazendo-os conviver com outros machos, sob o efeito do quinpirol, uma substância que estimula no cérebro os receptores de dopamina. (A dopamina é uma substância química naturalmente presente no cérebro que, quando se liga a células em certas áreas chamadas de sistemas de gratificação, favorece a procura de alimentos, água e sexo - Figura 3.) Se, entretanto, estes machos forem previamente expostos a experiências heterossexuais, sua tendência será de manter preferência pelo sexo oposto, mesmo após convivência com outros machos e mesmo sob efeito do quinpirol (2).
Em experiências semelhantes com fêmeas (3), o quinpirol não induziu preferência em fêmeas cujos ovários haviam sido retirados e que haviam recebido hormônios femininos (estradiol e progesterona). Mas, quando só se administrou estradiol (hormônio que aumenta o comportamento sexual), fêmas condicionadas com quinpirol apresentavam mais comportamentos sexuais dirigidos a fêmeas, quando comparadas com aquelas que não haviam recebido quinpirol.
As pesquisas em humanos são especialmente difíceis, pelos seguintes aspectos (4):
- Questões éticas relacionadas à possibilidade de interferir no desenvolvimento do indivíduo.
- Questões técnicas relacionadas ao período prolongado do desenvolvimento, dificultando a observação.
- A própria separação rígida em "homossexuais" e "heterossexuais" é discutível.
- A maioria das pesquisas foi feita em homens e, além disto, é possível que as pessoas que concordem em participar destes estudos não sejam representativos da totalidade da população de homossexuais.
Alguns achados interessantes:
- Não há evidências que confirmem teorias antigas de que a homossexualidade masculina estaria relacionada à presença de "mães dominantes" (4)
- Existe uma incidência discretamente maior de filhos homossexuais de pais homossexuais, porém pode ser devido a influências genéticas e não comportamentais E não foi observada correlação entre o tempo de convivência com os pais e a posterior orientação sexual(4)
- Um dos achados mais constantes é a presença de não-conformidade sexual (comportamentos e fantasias não esperados para o gênero) , em crianças pré-homossexuais (4,5).
CONCLUSÕES
A questão da origem do comportamento homossexual ainda não está respondida, mas existem evidências sobre a interação de fatores genéticos com fatores ambientais.
Não há nenhum indício que corrobore a existência de uma "opção sexual", no sentido de as pessoas decidirem livremente se terão atração sexual por um ou outro gênero.
Por outro lado, a presença de homossexualidade em vários animais (4) mostra claramente que não se trata de nenhum traço "anti-natural", porém de uma variação do comportamento sexual.
Da mesma forma, não há base científica para se considerar a homossexualidade uma doença e não se justifica, portanto, falar-se em "tratamento".
Referências bibliográficas
1. Balthazart J Sex differences in partner preferences in humans and animals. Philos Trans R Soc Lond B Biol Sci 2016 Feb 19;371(1688):20150118. doi: 10.1098/rstb.2015.0118. Epub 2016 Feb 1.
2. Ramírez-Rodríguez R, Tecamachaltzi-Silvaran MB,, Díaz-Estrada VX, Chena-Becerra F,, Herrera-Covarrubias D,, Paredes-Ramos P, Manzo J,, Garcia LI, Coria-Avila GA. Heterosexual experience prevents the development of conditioned same-sex partner preference in male rats. Behav Processes 2017 Mar;136:43-49. doi: 10.1016/j.beproc.2017.01.010. Epub 2017 Jan 21
3. Tecamachaltzi-Silvaran MB, Barradas-Moctezuma M, Herrera-Covarrubias D, Carrillo P, Corona-Morales AA, Perez CA, García LI, Manzo J, Coria-Avila GA. Olfactory conditioned same-sex partner preference in female rats: role of ovarian hormones. Horm Behav. 2017 Nov;96:13-20. doi: 10.1016/j.yhbeh.2017.08.006. Epub 2017 Sep 12.
4. Jenkins WJ Can anyone tell me why I'm gay? What research suggests regarding the origins of sexual orientation.
5. Gordon AR, Meyer IH. Gender nonconformity as a target of prejudice, discrimination, and violence against LGB individuals. J LGBT Health Res. 2007;3(3):55-71.
4. Jenkins WJ Can anyone tell me why I'm gay? What research suggests regarding the origins of sexual orientation.
5. Gordon AR, Meyer IH. Gender nonconformity as a target of prejudice, discrimination, and violence against LGB individuals. J LGBT Health Res. 2007;3(3):55-71.
Ilustrações:
Início da postagem: Benson Kua Rainbow flag breeze Wikimedia commons https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/fb/Rainbow_flag_breeze.jpg , acessado em 22/07/2018
- Own work Wikimedia Commons https://commons.wikimedia.org/wiki/Category:Hypothalamus#/media/File:Blausen_0536_HypothalamusLocation.png
Figura 2. Wikimedia Commons Esquema explicativo dos mecanismos epigenéticos https://commons.wikimedia.org/wiki/Category:Epigenetics#/media/File:Mecanismes_epigenetiques.jpg , acessado em 22/07/2018
Figura 3. Vias dopaminérgicas - - Derivative work of File:Dopamine Pathways.png https://pt.wikipedia.org/wiki/Dopamina#/media/File:Dopamine_pathways.svg
Figura 3. Vias dopaminérgicas - - Derivative work of File:Dopamine Pathways.png https://pt.wikipedia.org/wiki/Dopamina#/media/File:Dopamine_pathways.svg





